Quando alguém pergunta a uma criança o que você vai ser quando crescer, normalmente recebemos uma resposta de um sonho infantil como ser jogador de futebol, astronauta ou cientista, mas não conheço ninguém que um dia sonhou em ser professor de Jiu Jitsu.
Assim como ninguém sonha em ser um administrador ou fotógrafo, essas profissões como tantas outras despertam o desejo do indivíduo ao longo de suas experiências vividas, suas afinidades e realizações. Normalmente a profissão de professor de Jiu Jitsu se desenvolve durante o período de aprendizagem da arte marcial, diferente das outras graduações onde estuda-se para obter uma graduação e poder exercer uma determinada profissão. No Jiu Jitsu não, você pratica a arte marcial sem a pretensão de se tornar um profissional da área e no decorrer do tempo vai se apaixonando pela prática e sendo graduado até alcançar a faixa preta, podendo exercer a profissão ou não.
Chagamos agora ao ponto chave da questão, o cidadão chegou a faixa preta, ama o esporte e decidiu viver dele dando aulas de Jiu Jitsu, mas à partir dessa decisão, que tipo de professor ele vai se tornar?
No meu ponto de vista existem dois tipos de professores: os que vivem do Jiu Jitsu e os que vivem para o Jiu Jitsu, essa é a diferença entre o trabalhador e o profissional.
Segundo definições de vários dicionários, trabalhador é quem exerce um trabalho, ou mais de um, obtendo em troca uma remuneração, enquanto o profissional não exerce apenas uma qualificação específica, vinculado a um título habilitante ou graduação, mas também pode fazer referência ao compromisso, a ética e a excelência no desenvolvimento das atividades laborais. No Jiu Jitsu essa diferença fica muito mais clara entre alguém que apenas dá sua aula e um verdadeiro profissional do Jiu Jitsu; e a maioria dos praticantes consegue sentir essa diferença.
O professor profissional ele é sim um trabalhador, mas nem sempre um trabalhador é um profissional. Aqui eu uso esses dois termos apenas para fazer uma distinção entre esses dois tipos de professores.
O trabalhador normalmente é aquele que começou a dar aulas e viu nesse mercado um meio de se sustentar, fez uma conta simples em que alcançando um número X de alunos ele receberá um determinado salário e se contenta com isso. Passa os dias esperando que mais alunos entrem na sua academia, cumpre os seus horários de aula e espera a mensalidade no final do mês.
Trabalhador do Jiu jitsu
Esse tipo de professor não evolui apenas como profissional mas também fica com o seu Jiu Jitsu estagnado, acredita que o que já aprendeu até a faixa preta é o suficiente (Jiu Jitsu bom é o básico, o resto é firula) e muitas vezes para de treinar e competir tanto por vaidade quanto por insegurança.
Ele não tem didática e nem pensa em desenvolver uma, muitas vezes apenas repete o que lhe foi ensinado e está sempre tentando ganhar um trocado a mais. Com o tempo, ministrar aulas deixa de ser uma realização pra se tornar uma obrigação e todos os objetivos que tinha quando começou a ensinar não se realizaram e agora sente que não é recompensado como deveria.
As aulas começam a se tornar repetitivas, desmotivantes e ele começa a faltar às aulas com frequência e pedir para um aluno menos graduado cobrir a classe “só por hoje”. Os alunos começam a diminuir e na primeira oportunidade de emprego que venha a receber 500 reais a mais ele aceita.
Já o profissional do Jiu Jitsu é diferente, ele é apaixonado pelo que faz e a cada ano que passa ele se apaixona ainda mais porque vê o seu crescimento e evolução. Ele vê o seu esporte crescendo e quer crescer junto com o mesmo, quer participar desse momento e escrever a sua própria história dentro do esporte.
O profissional não para de estudar e aprender novas técnicas, participando de seminários, interagindo com professores de outras escolas e aumentando o seu network, buscando aprender com outras didáticas. Mas ele não se especializa apenas no Jiu Jitsu, busca aprender sobre educação física, se possível faz cursos em diferentes áreas como marketing, inglês, administração ou técnicas de crescimento pessoal, tudo isso pensando em se desenvolver cada vez mais para dar o melhor para os seus alunos e academia, ou outros projetos em que ele venha a se envolver.
O professor profissional não tem apenas alunos, ele cria amigos e desenvolve uma família no Jiu Jitsu, e no final esse é o maior legado que ele pode deixar.
A pergunta que deixo no ar é: Quem tipo de professor você quer ser, um trabalhador ou profissional?
Autor: Fernando Nicolich, faixa Preta 3º Grau, professor de Jiu Jitsu nas Forças Armadas dos Emirados Árabes Unidos.